Imagina só... se a gente aceita a derrota?
Vai dizer que dá pra acompanhar o que acontece no mundo hoje em dia? Não dá. Quem diz que dá, tá errado, desempregado ou sem filhos. O dia precisava de um upgrade pra umas 30h pelo menos, como certos bancos, pra gente dar conta de ficar bem informado, em forma, rico e feliz. Como a Hermione ainda não emprestou o viratempo, sou da filosofia que é melhor aceitar a derrota do que se decepcionar com o fracasso.
Mas o tal do fear of missing out é cruel. A gente já abre o Instagram como reflexo (mas jura que larga quando quiser) e ainda dá de cara com todo mundo fazendo trilha, na praia, na Disney, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê enquanto você desce a timeline de pijama e descabelada depois de trabalhar o dia todo.
Não vou nem entrar no mérito de mas-veja-bem-as-redes-sociais-são-um-recorte-editado-e-não-representam-a-realidade, porque esse papo de imagens meramente ilustrativas não cola. A gente é tão influenciável que tem alguém no Facebook (ou é Meta agora?) neste exato momento estudando mais uma forma de te fazer clicar em links e produtos e joinhas que você normalmente não clicaria (sim, O Dilema das Redes é um dos cinco filmes que eu vi nos últimos anos, me deixa).
O ponto é que não adianta lutar contra a nossa tendência e cultura de fazer tudo ao mesmo tempo, de ceder às pressões para ser do 5 AM Club, de ser o funcionário do mês enquanto faz jejum intermitente e ouve aquele podcast que tá todo mundo comentando enquanto faz o próprio molho de tomate artesanal orgânico vegano com azeite trufado que utiliza apenas azeitonas colhidas pro freiras virgens e cegas nas colinas da Galileia. Enfim, aceita que dói menos.
Aceita que é humanamente impossível dar conta de trabalho, casa, família, projetos paralelos, leituras, filmes, séries, discos, as notícias de Brasília, as tretas do Oscar e ainda quem ganhou o campeonato estadual - em Minas foi o Galo, caso você ainda não saiba ;)
E nem precisa, sabe? Nos cobramos tanto quando tem literalmente gente com cargos importantes que não sabe pesquisar um mísero CNPJ no Google e ainda dorme tranquilamente à noite. É legal estar por dentro da tal série da Netflix que todo mundo comenda exaustivamente por uma semana? Claro. Não boiar nos comentários sobre o BBB? Deve ser ótimo. Mas enquanto não aperfeiçoam a clonagem humana, melhor priorizar o que realmente importa - e isso varia muito de acordo com a sua classe social, estado civil, idade, etc. Não existe resposta certa ou errada. Existe o que faz sentido no nosso momento de vida.
Escrevo tudo isso pensando que enfim, a hipocrisia. Afinal, tô aqui oprimida pela minha lista de séries pendentes no TV Time, mas acreditando que é possível ser #plena sem se cobrar tanto. Eu literalmente participei de um podcast inteiro sobre o Oscar desse ano sem ter visto 99% dos filmes, o que já me integra superbem ao maior hobby dos brasileiros na internet, que é dar opinião sem conhecimento de causa.
Existe uma liberdade deliciosa em dizer não - é joy of missing out que chama, né? Rejeitar um programa, um entretenimento, uma pressão porque não condiz com o que você quer, gosta, defende. A gente se empolga tanto marcando caixinhas de realizações e tarefas concluídas que esquece até de respirar - aí coloca na lista de tarefas voltar a meditar, pra reaprender a respirar.
Não me leve a mal, não defendo a mediocridade, a ignorância. É sim importante estar informado (é ano de eleição, fica esperto). A sensação de pertencimento ao compartilhar um fenômeno cultural com um grande grupo de pessoas pode ser transcendental. Mas não. É. Tudo.
Por outro lado, aquela história toda de que o que importa é a jornada é real, mas não é realista. Somos suscetíveis a TANTA coisa. Desejar é intrinsecamente humano. O que precisa mudar é o que não é inato. Não nasce com a gente a necessidade de performar a todo momento, de bater cartão em evento X ou Y, de ter opinião sobre tudo. E quanto antes a gente se libertar dessas cobranças, melhor pro nosso autocuidado, pra nossa saúde mental.
Imagina só… se a gente dorme enquanto eles trabalham? Seria revolucionário.
Incrível <3