Imagina só... se a gente aprende a lidar com as críticas?
Sou ótima em pegar algo completamente aleatório e achar que é sobre mim. Sabe quando passa alguém cochichando do seu lado? Eu sou sempre a pessoa que começa a apalpar pra ver se não estou com a calça aberta, papel higiênico no sapato, etc. O universo inteiro gira à minha órbita, não tenho culpa.
Aí uma das minhas bandas favoritas da vida, Belle and Sebastian, lançou um single novo que vai estar no próximo disco. Tô curtindo o que tem saído, inclusive essa última faixa, “If they’re shooting at you”. Pelo que entendi, já estava pronta e veio a calhar do megalomaníaco do Putin invadir de vez a Ucrânia. Daí B&S lançaram um vídeo-colagem só com registros de fotógrafos cobrindo a guerra lá.
O próprio título leva à ideia de que, se estão atirando contra você, é que algo certo você deve estar fazendo. A música é fofinha, mas a parte lírica narra um momento bem difícil na vida de uma pessoa, que trabalha até a exaustão para vender o almoço e comprar a janta, que busca o aconchego de alguém que diz “vem cá, eu cuido de você e te protejo”. É triste, é bonita, do jeito que Belle and Sebastian adora fazer.
Casa direitinho com a situação dos ucranianos e seus milhões de refugiados, mas não precisa chegar a uma situação extrema pra se identificar com “If they’re shooting at you”. Considerando que tá todo mundo #exausta, não é lá tão difícil. Já viu a quantidade de brusinha que tão vendendo pra gente virar essa hashtag ambulante? (Curioso que é sempre no feminino, né? Ora ora, por que será? cof cof patriarcado cof cof)
Enfim, tudo isso pra dizer que essa lógica do “se estão te criticando, é porque você tá incomodando, fazendo algo certo” pode até fazer sentido, porém pera lá, Stuart Murdoch. Primeiro que todo mundo é passível de crítica, ninguém é perfeito, mas não é tão simples quanto parece. Os millennials já são um poço de insegurança, dívida e cansaço, imagina só as gerações que vêm depois? Tá todo mundo tentando lidar com a própria sobrecarga, e tem hora que você só quer falar “putz, tá pesado, hein?”. E tudo bem.
Porém, enquanto pessoa que acha que o mundo se resume ao próprio umbigo, o simples fato de existir numa realidade em que qualquer um que pode te criticar, não aceitar, discriminar, cancelar, é uma barra por si só. Não adianta dar de ombros e pensar que tá todo mundo com inveja, é assim mesmo, coisa e tal. Isso é coisa do meu signo? Não faço a menor ideia, mas ultimamente ando propensa a botar culpa no zodíaco, portanto vou usar aqui a minha carta de “sabe como é, né, sagitariana kkkk”.
Antes da minha filha nascer, há 2 anos, eu consegui engatar na terapia pela primeira vez em mais de 30 anos de vida. E passei a analisar muita coisa que eu achava que era inato, parte da minha personalidade, porém depois notei que se tratavam de limitações que eu mesma e as pessoas à minha volta foram me condicionando a impor. Agora que sou mãe descabelada e não tenho tempo pra terapia mais, tenho um assento de primeira fila para o desenvolvimento de um ser humaninho. Percebo o quanto a gente vai moldando comportamentos e crenças nas crianças desde muito antes de eles conseguirem falar ou andar. E a autoconfiança tem muito a ver com essas bases que a gente vai construindo ao longo do tempo. Não dá pra acordar um dia, ler um livro da Brené Brown e achar que superou.
Às vezes eu acho que essa nossa geração, a dos 30 e poucos, foi a que viveu tudo que a estabilidade financeira pode proporcionar a um adulto com carteira assinada - apenas para ver tudo isso ser descartado e ter que se reposicionar no mercado como PJ, criador de conteúdo, empreendedor. Tem sido um baque para inúmeras profissões. Por outro lado, eu sinto que somos uma geração mais bem resolvida, muito pela força das circunstâncias, mas também pelo acesso mais democrático à terapia, por debater abertamente questões identitárias, políticas, sociais.
Viu? Há esperança. Mas é um longo caminho, não importa se você é inseguro ou não, se sofre de síndrome do impostor ou se acha o centro do universo. Tô aqui molhando o dedinho do pé nas águas da internet justamente porque a mão que coça pra escrever é a mesma que coça a cabeça pensando nos “e ses”. E se ninguém ler? E se ninguém gostar?
Mas o ser humano é um bicho bobo que insiste em tentar, mesmo assim. Foi assim que vieram os grandes progressos do homem, uma teimosia de cada vez. E, assim como peguei o clipe do Belle and Sebastian voltado para a guerra e tornei sobre mim, eu comparo esta newsletter com um grande passo para a humanidade. Viu só? Não há insegurança que resista, e nem terapia que baste.
Estamos há 0 dias sem duvidar da própria capacidade. Seguimos tentando.
Sorri e me identifiquei em vários momentos com esse texto *suspiros*
Te amo!